Não há dúvida que o professor Carlos Queiroz é um sujeito aprumado, ao ponto de não perder a compostura mesmo quando parece ter perdido as estribeiras. Terão certamente reparado no preciosismo de virar o casaco do avesso em plena arruaça, antes de o atirar ao chão.
É certo que nos tem brindado com actos que não suspeitávamos possíveis como a agressão ao jornalista Jorge Batista ou a alusão às partes pudendas da progenitora do dr. Luís Horta (médico-chefe da Autoridade Anti-Dopagem), mas tudo isso poderá ser pelo menos atenuado se considerarmos o carácter auto-sacrificial de quem aceita cargos como o de seleccionador nacional de futebol num mundo em transe e num país em que a crise é particularmente aguda ao ponto de agravar o crónico problema da má relação de certos políticos com a verdade. Quem se lembrou de "levar a democracia" ao Iraque quando o Saddam Hussein era o "nosso" (dos Estados Unidos, claro) filho da puta? Quem se lembrou da "equidade", invocada para baixar salários e suprimir benefícios, quando havia dinheiro?
O caso Carlos Queiroz assume o carácter "sacripântico" de quem precisa de um pretexto para correr com ele sem lhe pagar o que está no contrato que, pese embora, possa ser um disparatado "balúrdio", terá sido o "isco" que mordeu de boa-fé.
Carlos Queiroz demonstrou não apenas ter um perfil de bom cristão, mas seguir a via da autêntica "Imitação de Cristo", como a pregaram os padres José de Anchieta, Manuel Bernardes e António Vieira, quando aceitou vir dar-se em holocausto e suportar a inevitável passagem de salvador a ovelha ronhosa num ápice, devendo saber antecipadamente que os mesmos que lhe cantaram hossanas, seriam os que, pouco depois, clamariam pela sua "crucificação", trocando-o por um qualquer Barrabás, que isto entre ladrões vai dar tudo ao mesmo.
O professor só pode merecer o nosso mais alto reconhecimento e patriótica devoção mística, demais a mais se pensarmos que a sua situação em Manchester não se resumia apenas a um qualquer "engano de alma ledo e cego".
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