quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vernáculo


Os media, talvez por falta de assunto, abriram esta manhã com o magno problema dos "livros escolares que ensinam palavrões". Explicada a "caixa" no desenvolvimento da notícia, percebe-se que se trata de dicionários, alguns de respeitáveis e consagradas editoras, que contêm termos e expressões vernaculares.
Este "problema" é antigo, já no meu tempo de Liceu (há mais de quarenta anos e ainda com Salazar em funções) o pessoal, mesmo os que se estavam "borrifando" para a Literatura, adorava as aulas de Português em que se liam os Autos de Gil Vicente, por causa do vernáculo.
Oficialmente os "palavrões" estavam interditos, mas naquele caso não havia volta a dar, eles estavam lá no texto e era delicioso lermos em voz alta para toda a turma, ou melhor ainda, ouvirmos o engravatado professor ler para nós. Pelo menos que eu tivesse dado conta, não passou então pela cabeça de nenhuma "boa alma", cheia de públicos acessos de pudor, contestá-lo.
Sei que, também há uns anos, se bem me lembro no princípio da década de 90, houve no Alentejo um julgamento de uma figura castiça local, que estando no cante com os amigos, parece que já bem bebidos e altas horas, na Praça central da vila, perante a intervenção da GNR chamou a um sargento da referida força "filho da puta". O sargento, considerando-se desrespeitado, apresentou queixa ao Tribunal, houve um processo sumário com audiência no dia seguinte e o juiz aceitou como boa a tese do advogado do arguido (devia ser tudo malta da "corda") de que a intenção deste não tinha sido ofender o agente da autoridade, mas apenas, muito meritoriamente, utilizar no diálogo que estabeleceram um Português rico e de lei, o "vernáculo vicentino" e decidiu pela absolvição do cantador.
Ora, descontando o anedótico, se essas almas sensíveis estão assim tão preocupadas com o uso de "palavrões", não se fiquem pelos dicionários, entrem nas Escolas e não ouvirão, praticamente, uma frase que não acabe em "alho".

2 comentários:

Edgar Pedro disse...

olá Tozé
Pela actualidade deste teu post tomei a liberdade de partilhar ele na minha pagina do Facebook.
Espero que não tenha feito nada que te incomode. Se assim for peço-te desde já as minhas desculpas por nao te ter dado conhecimento desta minha intenção antecipadamente.
Já agora meus parabens pela tua intervenção bloguista. sempre que posso dou ca um salto.
hasta!

imank disse...

Olá mr.e:
De modo algum.
Obrigado e manda sempre!
Hasta!