O País acaba de saber, pela televisão, em directo e ao vivo, aquilo que toda a gente (opinião pública e publicada) já intuía: mais um "PEC", desta vez com o corte das pensões para toda a gente e não apenas para os aposentados da Função Pública, a subida do IVA (até para o leite com chocolate) rasgando, na prática, o acordo Catroga.
O cortejo socrático de mentira atrás de mentira soma e segue, aquilo que ontem (literalmente) estava bem, passa a não estar, instantâneo como o "Nescafé", em mais uma demonstração da técnica das "medidas" à fatia ("encostar", para não dizer outra coisa, "encostar" devagarinho).
Esta foi mesmo nas costas e bem no fundo das costas, dos portugueses.
E o "método", meu Deus, absolutamente à sorrelfa, ninguém foi informado de nada - nem o Presidente da República, nem o Parlamento, nem o líder da Oposição, nem os Parceiros Sociais. Nem sequer foi o Joe Clown que apresentou as "medidas", mas o Ministro das Finanças. Por essas e por outras o Salazar, que começou por ser Ministro das Finanças, exigiu, para continuar no cargo, ser também Presidente do Conselho. Mas não tinha tirado o curso ao domingo e nessa altura Portugal ainda tinha alguma soberania.
10 comentários:
Vou fazer algo que nunca pensei ser possível, vou defender o Sócrates - relativamente ao teor das medidas e por comparação com as anteriores, entenda-se. Pondo de parte os rituais democráticos não cumpridos, a aplicação da mesma fórmula da função pública às pensões devia ter sido feita logo de início. Não é compreensível que com um país em crise, se penalize quem trabalha e não se faça o mesmo, pelo menos na mesma proporção, com quem está inactivo, por muito que tenha trabalhado na vida. Até porque quem trabalha agora, ainda por cima, não terá as mesmas condições dos actuais reformados, se é que vai ter direito a alguma reforma - isto para não falar dos reformados de 50 anos (até já lá os vi com 40 e tal anos) que vão para o "Opinião Pública" falar mal da função pública. Afinal, as pessoas só percebem o que é diminuir a despesa do Estado quando lhes vão ao bolso. Não se importam com a redução dos salários das pessoas que lhes prestam inúmeros serviços, mas já protestam quando lhes cortam as pensões que não pagam serviço nenhum. E ainda se comparam com a geração à rasca que nunca irá ter direito a reforma alguma do Estado, depois de não ter direito a horário de trabalho, a férias e folgas, a estabilidade no emprego e no salário, etc. Lamento Tó Zé, mas sejam quais forem as causas da actual situação de precariedade, não é legítimo que as gerações mais velhas tentem passar a mensagem que estão na mesma situação dos jovens. Isso acaba por relativizar a situação extremamente grave destes jovens. Mesmo os reformados que têm razões para se queixar, com as pensões mais baixas e miseráveis, têm algo que estes jovens muito provavelmente nunca irão ter. E quanto aos outros que vêem agora penalizadas as pensões, deviam solidarizar-se com os jovens em vez de dizer que estão na mesma situação - porque nem estiveram, nem estão.
A questão das pensões
Quem descontou x anos constituiu um fundo de pensões, capitalizou, na realidade para um fundo público e solidário, intergeracional. Exceptuando os políticos as pessoas q recebem pensões descontaram. E, se tivermos em conta q a pensão média em Portugal é 400 euros nada há de obsceno em geral
Por outro lado quando cada um de nós desconta para a SS está a juntar dinheiro num fundo colectivo com uma aplicação CONSIGNADA a fins específicos - reforma, doença... É roubo juntar isso ao orçamento do estado e aplicar esse dinheiro no bolo do combate ao deficit. Se isso é legítimo então têm de englobar tb o que as pessoas descontam para fundos privados. E não o fazem.
Em resumo é uma aldrabice, um roubo a junção da SS com as contas do Estado
Mais, a vulgata neoliberal e dos gestores do sistema diz que o aumento da longevidade, bla bla obriga à redução das pensões e ao aumento da vida activa. Em resumo, cada um de nós tem de alimentar os capitalistas mais anos.
E o aumento da produtividade? Não beneficia o pessoal? E as várias formas de balda ao pagamento de contribuições - pagamento de salário através da entrega de carro, por ex ?
Ou o perdão efectivo e continuado aos ditos empresa´rios que não entregam as contibuições para a SS; em 2010 segundo a besta da Helena André recuperaram 412 M mas... em 2009 a dívida havia aumentado 1300 M; dito de outro modo, 900 M q teriam sido bons para reduzir o deficit ficaram na maõ dos vigaristas, dos empresários portugueses, verdadeiro gang de incapazes e gatunos
vejam
http://www.slideshare.net/durgarrai/estratgia-para-um-sistema-de-segurana-social-favorvel-multido-de-trabalhadores-e-ex-trabalhadores
Quanto a prestar ou não informaçãos por parte do governo
1º Abomino Sócrates e o seu partido nacional socialista; tal como o seu gêmeo PSD, post-fascista
2 º Não creio que o governo tenha de dar conta dos seus actos correntes ao Cavaco e menos ainda ao "chefe da oposição" que, para mais sendo ignorante teria de chamar o Nogueira Leite ou o Relvas para lhe explicarem as medidas
3 º Portugal não tem soberania e Sócrates apenas traduziu os textos preparados pelos economistas que vieram da UE, devidamente industriados pela Merkel
4º Quando o sistema político, os políticos em geral formam um grupo à parte da população em geral é uma retardada brincadeira de carnaval preocuparmo-nos com as jogadas mediáticas deles
Narciso:
Totalmente de acordo,aliás nunca foi outro o sentido dos meus posts, mas não vale a pena "defenderes" o Joe Clown. Ele deixou este "coelho na cartola" apenas por motivos tácticos, é um grande "coirão". Ter agora vindo "implicar" com os pensionistas, muitos mais novos do que eu e com reformas superiores(se tal mundo se consente) ao vencimento líquido no activo, é apenas para imputar responsabilidades à Oposição.
Se houvesse um pingo de seriedade, o PEC anterior não teria cortado salários a apenas alguns (os professores por exemplo) funcionários públicos.
Não podemos ser "naifs"!
E mais caro Narciso: tens assim tanto a certeza de que vais ter alguma pensão de reforma?
Quem é que acaba por sustentar os jovens (muitos com mais de 30 anos) precários?
Estamos todos, mesmo todos, muitíssimo "à rasca"!!!
Eu posso ter alguma expectativa - mesmo que muito inferior aos actuais reformados. Estes jovens é que não vêem qualquer esperança de futuro. Eu estou há 22 anos num emprego razoavelmente seguro - e estou a incluir os 4 anos de contratado anualmente porque até essa situação era francamente melhor do que a dos actuais jovens. Tenho tido inúmeras férias e folgas e subsídios que eles não têm. Pude constituir família com uma segurança razoável. Reduzidos a uma insegurança do século XIX, muitos terão já condições semelhantes às dos proletários desse século. Mas, ao contrário, foram educados pelo projecto iluminista de tornar todos os cidadãos filósofos e letrados e senhores. Pergunto-me se não teria sido melhor deixar os futuros proletários analfabetos como os do passado. Agora, têm que suportar a sua situação mas com uma consciência angustiada existencial apurada. Proletários com as depressões dos abastados. E dizes bem - sustentam-se com os ordenados e pensões dos pais e avós - mas com a consciência de que os seus filhos, se os tiverem, terão uma existência miserável. Que geração é que pode suportar a ideia de uma vida que será passada a gastar os tostões dos pais e avós, e a transmitir aos filhos apenas a miséria? É claro, ainda há a emigração - mas para uma Europa que apenas está atrasada no mesmo rumo de decadência.
A queda da União Soviética até pode ter acabado por ser muito boa para os russos - mas, logo na altura, dizia eu que era péssima para nós. Todas as nossas regalias ocidentais vinham do medo do comunismo. Acabou o medo do comunismo, era só uma questão de tempo até voltarmos à situação do século XIX - e ainda lá não estamos, ainda há muito caminho para andar até aí. Depois, até isto inflectir noutra direcção, vai demorar muito, muito tempo...
Se a queda da URSS foi boa mesmo para os russos, não sei, para alguns, para o Abramovitch por exemplo, foi de certeza. Mas também eu disse e escrevi logo na época, 89/91, que a prometida "era de leite, mel e liberdade" pós Muro de Berlim não iria ser assim tão líquida. E a alternativa, então corrente, entre a "miséria do quotidiano" e o "quotidiano da miséria" iria tornar-se, a médio prazo, mais do que um tropo retórico, uma possibilidade de "síntese perfeita".
E é verdade, ainda estamos na fase descendente, até haver de novo um Marx, ou coisa assim, e movimento revolucionário com efectiva acção, vai ser preciso chegar ao fel. Aí, muito provavelmente já cá não estaremos, haverá de novo luta e não apenas a paródia dos "Homens da Luta".
Logo a seguir à queda, foi péssimo, mais para eles que para quaisquer outros - mas a economia da mafia, ali como em muitas outras economias "explosivas", lá relançou o país. Eu já estou a contar com o efeito bric e os crescimentos que têm vindo a registar. Se isso continua a só ir para o bolso de alguns ou tem algum reflexo para a maioria, é que eu já não sei...
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