segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sócrates e o Regresso à Maiêutica



Há quem veja a maiêutica socrática, ou seja, a arte de fazer o próximo “parir” a verdade, como mais um instrumento metodológico de uma “sofística” pretensamente anti-sofística. Nós, portugueses, estamos bem servidos de expedientes deste género: Salazar, por exemplo, assumiu-se como “mestre” de uma "política sem política” e temos vivido, desde os anos 80, sob o jugo de uma ideologia global (o capitalismo neo‑liberal) que proclamou a “morte das ideologias” (certamente que das “outras”), da teleologia do mercado e que se pretendeu instituir como única “religião” com os resultados que estão à vista!
È um “truque” recorrente o próprio ladrão gritar “agarra que é ladrão”! E esta técnica persuasiva de induzir a “verdade” conveniente é tão antiga como os registos da Humanidade e está catalogada como técnica retórica, sendo recurso vulgar de todos os vendedores de “banha‑da‑cobra”.
É precisamente o que se passa com a “Moção de Sócrates” para o próximo Congresso do PS, que foi apresentada ontem, domingo, no CCB e que como “novidades” apresenta o velho tema “fracturante” do “casamento entre pessoas do mesmo sexo” sem adiantar mais pormenores, sem se querer comprometer com mais nada, ou seja, com as questões conexas do direito à adopção, etc., etc., e a “protecção à classe média”, por via da política fiscal.
Ora estas propostas, sobretudo a última, uma vez que a primeira se insere na táctica de agarrar eleitoralmente uma “franja”, depois de a ter traído consecutivamente, parecem-me eivadas de farisaísmo e vamos por partes:
A política fiscal em Portugal constitui efectivamente e desde “sempre”, um autêntico esbulho, uma verdadeira exacção à tal classe média que o “nosso” Sócrates se propõe agora “proteger” depois de ter andado a “sugar”durante todo o mandato.
Não é por acaso que Portugal é e tem continuado a ser, até se agravando o fosso durante o consulado “socialista” de Sócrates, um dos países mais económica e socialmente desiguais, não apenas entre os países da União Europeia, mesmo considerando os recém entrados, mas entre os países da própria OCDE, ou seja é estruturalmente e há séculos, um país em que o rendimento e consequentemente a riqueza é muito desigualmente distribuído e nós sabemos bem das “dificuldades que tem um reino velho em emendar‑se”, mas também sabemos quanto os governos e as forças sociais dominantes têm, ao longo de séculos, vindo a compactuar com a situação sejam de “esquerda” ou não.
E quando algo ameaça mudar o establishment, ou começa a cheirar a pólvora ou se inventa uma qualquer “Casa Pia”*, para arredar os “empecilhos” que dantes iam para o patíbulo e agora vão para a gaiola dourada de Bruxelas e arredores.
Mas voltando à “vaca fria”, se o critério de protecção à classe média for o mesmo que tem vigorado no iníquo sistema fiscal a que temos estado submetidos, auguro que seja mais do mesmo e que quaisquer 300 contos de rendimento bruto mensal (1500 Euros) sejam (como actualmente são) suficientes para fazer um “rico” fiscal em Portugal, onde infelizmente, rendimento declarado e rendimento real são duas coisas bem diferentes e assim, a classe média assalariada continuará a ser a “teta” espremida até sangrar, pela “retenção na fonte” de uma fatia importante dos rendimentos brutos, com a agravante de aquilo que para ela são “luxos” (a habitação, os carros, o combustíveis, as comunicações, as propinas, as refeições, as “taxas moderadoras” na saúde, por exemplo, etc., etc.) para outros serem “despesas” a deduzir, o que permite que muitas empresas (grandes, pequenas e médias) sejam constante e sistematicamente descapitalizadas e o erário público delapidado, pelo uso privado de verbas e bens das mesmas (viaturas e despesas de todo o tipo: desde refeições em restaurantes, sejam “populares” ou de luxo como recentemente foi tornado público na Gebalis, por exemplo, até férias nas Caraíbas). Mas com isso “ninguém” parece preocupar-se a sério e o “regabofe” continua.
Para além das reformas milionárias dos “banqueiros” públicos como a CGD e o Banco de Portugal por muito pouco tempo de “trabalho”e também das subvenções vitalícias aos titulares de cargos políticos e às acumulações escandalosas que só a alguns são permitidas e que indiciam gravíssima ancilose de uma República que nunca o chegou a ser em pleno.
E continua, num paradigma de contenção e agrado aos extremos da pirâmide social, com uma política económica de “Robin dos Bosques” ao contrário, em que se rouba aos verdadeiramente pobres para dar aos verdadeiramente ricos, como agora se está a verificar no socorro às finanças de Bancos de créditos duvidosos e gestão ruinosa e mesmo fraudulenta, significando a defesa dos interesses das verdadeiras corporações (não resisto a parafrasear o título da mais recente obra de João Aguiar, do “Priorado do Cifrão”) em que se privatizam os benefícios, mas se “socializam” os prejuízos e “passa a mão pelo pêlo” das franjas marginais (o que classicamente se designava por lumpen), através de subsídios vários, distribuídos por critérios mais do que duvidosos e que implicam a dispensa objectiva de qualquer tipo de esforço e de obrigação a extractos de população que se transformam em eleitores de voto cativo, quando não em “tropas de choque” para prélios vários, internos e externos a forças partidárias (a este propósito, veja-se o que se passa nos “Bairros Sociais” do Porto, por exemplo, no que toca à difícil relação das “populações” com a actual gestão municipal).
E ainda por cima e como estamos em maré de clássicos, é tudo para as “calendas gregas”, mesmo sabendo de antemão que estas nunca existiram, pois as “calendas” só figuravam no calendário latino. Quer dizer, o “saque” continua até ao fim da legislatura e depois logo se vê…!
Por estas e por outras no que toca ao “histórico” de credibilidade do Sócrates contemporâneo, mais “espertalhaço” do que o outro, não é difícil concluir, que este quer, ao contrário do ilustre ateniense, que sejamos nós a beber a cicuta!


António José Carvalho Ferreira
Co-fundador da Secção do Barreiro do Partido Socialista em Abril de 1974

Post-Scriptum:

* É evidente que não estou a pretender dizer que o caso “Casa Pia” é uma ficção, há é demasiados e “convenientes” erros de casting.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Idiossincrasias "Dialectais"

No meu post anterior, "Cada cor seu paladar", referi certas idiossincrasias "dialectais" barreirenses e não apenas "camarras", porque o seu uso incluia mesmo os não radicalmente "camarros" ( e esses usavam um linguajar muito mais "cerrado" de que hoje muito pouco sobrevive).
Esses modos próprios de falar não se reduziam a questões lexicais, mas também à fonética e eu tive ocasião de me aperceber disso quando, aos dez anos, e por não haver ainda ensino liceal público no Barreiro, fui para o Gil Vicente na Rua da Verónica à Graça no coração da Lisboa castiça.
Lá e mais tarde, já no início dos anos 70, no D. João de Castro, reparei que os meus colegas "alfacinhas" (ou com pretensões a isso) me perguntavam se eu era "alentejano"; confesso que estranhei muito a pergunta, apesar de no último caso e uma vez que já tinha quinze
"(d)espertos" anos, responder que, em bom rigor deveria ser, uma vez que tomando a capital como referência, tinha nascido para além do Tejo ( o grande rio da nossa aldeia comum), e vêm-me sempre à memória os versos do cante:"Quando cheguei ao Barreiro e embarquei no vapor que passa o Tejo, chora por mim que eu choro por ti, já deixei o Alentejo".
Mas excessos de rigor à parte, acabava por dizer que no sentido usual não, não era alentejano, era do Barreiro.
- " E vocês lá não falam como em Lisboa"?- perguntavam eles.
E eu que julgava que sim, que falávamos como em Lisboa, tive que admitir que apesar dos verdadeiros alentejanos quando com eles falávamos nos atribuirem essa proveniência, havia diferenças e não tão poucas como isso.
Assim a "coisa" começava logo na fonética:
Onde "eles"( em Lisboa) diziam : - "Oh pá"!, "nós "(cá no Barreiro) dizíamos: - " Eh pá"!
Em Lisboa era "Tiio", "Riio", no Barreiro "Tiu", "Riu" e em "camarro" verdadeiro "jôge" por "jogo"( o senhor José Augusto, velha glória do Barreirense, do Benfica e da Selecção, um dos magriços de Inglaterra 66, ainda utiliza essa deliciosa pronúncia quando na televisão ou na rádio comenta jogos ).
Também no léxico havia diferenças notáveis, para além dos "bananins"/"paladares"
Em Lisboa dizia-se "berlinde" ou bilas, nós "bogalho"; eles (mais "elas") jogavam à "macaca", por cá era à "semana", eles comiam "carcaças", nós "paposecos",; já eles reinavam, ou pior, "rénavam" e nós aí falávamos português porque nos limitávamos a "brincar", nós tínhamos a malta ou a maltinha ( a da Cerca, a do Altinho, a temível da Srª. do Rosário e a terrível da Miguel Pais, malta camarra) e eles a "maralha".
Expressões interessantíssimas se ouviam, a minha tia (tia avó) a "menina" Adélia que está à beira dos noventa, quando lhe perguntavam pela noitinha :
- "Boa noute! Atão, adonde vás" ?
- " Vou à da m'nha cunhada"!
Mas nestas questões dos "dialectos" locais não convém abusar.
Lembro-me que aí por oitenta e poucos, fui ao Porto e fiquei num daqueles hotéis da Avenida dos Aliados; de manhã, entrando num daqueles velhos e grandes cafés pedi, ao balcão, um cimbalino.
O empregado olhou-me de soslaio e retorquiu:
- "Deseja uma bica, não é verdade" ?!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

CADA COR, SEU PALADAR !

Quando o "Barco do Barreiro" ainda era o "Barco do Barreiro", ou seja aquele robusto ferry, (qual "cacilheiro", qual quê!), que levava a tal meia-hora (e assim permaneceu durante décadas), o que era um tempo razoavelmente longo que dava para arranjar namoros e até "arranjinhos" mais ou menos clandestinos, dava para ler, para estudar, para jogar às cartas a "doer" ( a cave era o "casino" ) e até para dormir ( quantos não fizeram várias viagens de ida e volta sem dar por isso)?
Havia uns homens com umas pastas de cabedal sempre inchadas que corriam os transportes da zona da Grande Lisboa, (barcos, metro e combóios suburbanos), vendendo "paladares" (no Barreiro que nisto das idiossincrassias "dialectais" foi, infelizmente já não é, já está também "globalizado", muito pródigo, também chamados "bananins"), uns rebuçados artesanais embrulhados em papéis de celofane coloridos, com sabores a frutas, que eles apregoavam:
- "Cada cor, seu paladar"!
Mas não vendiam só isso, vendiam também lotaria, utilidades várias (pilhas, pensos rápidos, pentes, corta-unhas), livros de cowboys e da Corín Tellado, "para entreter na viagem" e até algumas "inutilidades" como talismãs.
Destes, havia um certo sortido: figas, "signosaimões" (ou seja, "signos de Salomão", mais precisamente, "estrelas de David") e cornos, tudo de plástico branco amarelado a imitar marfim e com uma argolinha para pendurar nos fios e usar ao pescoço para "dar sorte".
Um desses homens, quase todos já na meia idade, tinha um humor muito sui generis; era aquilo que se pode chamar um "castiço"; aliás característica não rara neste tipo de pessoas com um quotidiano bem menos formal do que o que era comum na época.
Esse, quando entrava nos salões do barco apinhados de gente à hora de ponta, lançava, alto e bom som, o seu pregão:
- "Cornos, quem quer cornos"?!
Perante a silenciosa estupefacção dos circunstantes, concluía:
- "Ninguém quer?! Já vi que estão servidos"!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

JÁ NÃO FUMEGA !

Tomando de empréstimo a designação de uma já clássica banda de rock nortenha é o meu "grito de alma", quando por motivos de saúde e com alguma nostalgia, caminho pelo Barreiro e de "humores merencórios" espontaneamente corre em mim a "bobine" da terra da minha infância e juventude.
São os mesmos sítios, só que sitiados.
E é verdade que o que é , pode, simultaneamente, não ser!
Já não fumegam as chaminés que a meias com o nevoeiro, produziam o smog acre e irritante que era já parte integrante da "nossa" paisagem industrial, que nos incomodava, mas nos conferia um sentimento de dignidade, de razão de ser.
Olhar os esqueletos e os fantasmas de uma actividade produtiva que não se reconverteu, apenas morreu de inanição, é triste e acorda em mim a voz dos que já cá não estão e vivos passaram nestas ruas agora demasiado silenciosas.
(The ancient empty streets too dead for dreaming) !
Como eu lhes entendo agora o sentido!
O Barreiro e a despeito das recentes "novidades", sem dúvida importantes e significativas, respira um pouco por todo o seu tecido urbano e muito no conjunto, demasiado concentrado em certas zonas como o Barreiro Velho, um ambiente de decadência e profunda degradação física e estética que se torna deprimente. Se bem que este ambiente não seja exclusivo, longe disso, do Barreiro, a própria antiga e esplendorosa capital do Império padece do mesmo mal, mas neste caso a patine do tempo e a beleza dos espaços compensa de algum modo a "negra" face, no caso do Barreiro isso não acontece.
Um pouco por toda a parte vemos edifícios profundamente degradados, mesmo nas áreas mais "centrais", fitas vermelhas e brancas indicam perigo e ruína, mas não evitam a sua eminência.
Um pouco por toda a parte há "enclaves de deserto", terrenos "baldios" cheios de escombros, lixo e dejectos. Um pouco por toda a parte reinam as sombras do passado, antigos fabricos de cortiça abandonados e terrenos inertes invadidos pelo mato mesmo no "coração" das zonas mais "nobres" da Cidade.
A juntar a este cenário desolador temos um "urbanismo" de gosto muito duvidoso, onde se esgota quase toda a possível paleta da piroseira suburbana mascarada de pós modernidade para consumo das hostes fiéis a um novo-riquismo possidónio que caracteriza um certo "mercado" em que impera o gadget e a objectiva inutilidade, desde o "estore eléctrico" à "música ambiente".
É preciso intervir mais do que cosmética ou especulativamente neste estado de coisas, a nossa zona ribeirinha noroeste por exemplo, na margem do Tejo, nas zonas de Alburrica e do Mexilhoeiro, está há décadas ao "deus-dará" e como diz a canção: "quando Deus não dá, como é que vai ficar" ?!
Assim mesmo, sem tirar nem pôr!
Mas recuperar não é "amaricar" e corroborando a opinião do ilustre Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Teles, não se "recupera" o nosso património natural e edificado espetando palmeirinhas e "mobiliário urbano" plastificado desde o Gerês a Vila Real de Santo António.
Hoje, ao vir a pé quase ao pôr do Sol, pelo viaduto "cardiovascular" da Recosta, junto áquele pavilhão do Pingo Doce, que até nem é feio, mas que está a virar fantasma por abandono das actividades complementares, sobre barrancos "carecas" por abrasão do escalracho que "arrelvava" as zonas junto ao Terminal Rodo- ferroviário-fluvial completamente ocupadas pelas "inevitáveis"(até ver) latas de quatro rodas em que nos fazemos transportar, reparei nas linhas arrancadas e no deslocamento para nascente da Linha Férrea agora electrificada e, vendo uma composição das novas a assinalar partida, esperei em pleno viaduto que o combóio me passasse por baixo, nisto o maquinista que não consegui reconhecer, mas que certamente me reconheceu, acenou para mim e saudou-me com um ligeiro apito!
Este simples gesto iluminou as brumas da minha memória e deu-me o alento necessário para escrever este texto que é de um encantado desencanto!...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Simplificações"

A Sr.ª Ministra da Educação está firmemente empenhada em "simplificar" o processo de Avaliação de Desempenho de Professores, de tal modo que até "dá de barato" a observação de aulas, ( veja-se o que se pretenderá, assim, "avaliar").
Afirmou, desdenhosamente, que a proposta da Plaforma Sindical (que congrega a totalidade das organizações sindicais docentes) se resumia a "uma folha A4".
Então e daí ?!
Não foi a mesma Sr.ª Ministra que há pouco tempo, ainda antes de ter admitido "simplificações", ao afimar que o Modelo era perfeitamente exequível, declarou:
- "Afinal, o que custa aos professores preencher duas folhinhas"?
Então..., o dos Sindicatos é só menos uma ?!
Afinal, é ou não é para simplificar ?!
Post Scriptum:
Esta autêntica "rábula" faz-me lembrar uma "clássica" *, a do cigano que vendia relógios de pulso e interpelava furtivamente os transeuntes na Baixa de Lisboa, abrindo o casaco, exibindo o "mostruário" e dizendo :
- "Freguês, olhe para esta maravilha, olhe para este relógio suíço com trinta e nove rubis" !
O "freguês" respondeu mostrando o relógio que trazia no pulso:
- "Para que é que eu quero isso, tenho aqui este que tem quarenta e cinco" !
Então, o "léo" retorquiu:
- " Ena tanta mentira junta, o máximo são dezassete" !
* Esta foi-me contada há muitos anos pelo malogrado Zé Canelas, que por ser muito parecido com o Richard Gere, se interrogava por que não poderia ser "Português Gigolo".

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Simulacros e Simulações" ( ou de como se diz na minha terra: "Há Grandes Vidas") !

Não terá sido por pura "balda", apesar dessa postura estar profundamente enraízada em toda a sociedade portuguesa e, portanto, também na Assembleia da República, que 30 deputados do PSD faltaram na passada sexta-feira.
Foi mais uma daquelas situações de "não só, mas também" em que o "centrão" que nos tem vindo a (des)governar é fértil.
Tendo em conta a matéria em apreço: a votação de uma recomendação de suspensão do actual modelo de Avaliação de Professores, certamente que muitos deputados do PSD não deixaram de, nesta espécie de "teatro trágico" dos interesses partilhados com o PS oficial, juntar o "útil ao agradável"; foram para férias mais cedo,(mais cedo do que o "comum dos mortais", entenda-se), no fundo basta ver as bancadas da AR às sextas-feiras para se perceber que é um comportamento habitual e não viabilizaram uma recomendação muitíssimo "desagradável" para o Governo, fazendo, no entanto, a Direcção do PSD a "rábula" de a "exigir"!
Nestas coisas os Partidos do Bloco Central "fazem a barba um ao outro" e "favor com favor se paga"!
A estes senhores só era devido um tratamento futuro: aplicar-lhes o regime de faltas que é aplicado aos professores e pagar-lhes o vencimento que os professores auferem, a tal fortuna de 2000 Euros líquidos ao fim de 30 anos de carreira, sem qualquer espécie de alcavalas e ainda no caso de terem por imperiosíssimos motivos de se ausentar, deixar o trabalho parlamentar preparado para o eventual deputado substituto que teria que estar em "stand by" nos "Passos Perdidos" disponível para as eventualidades!
Veríamos se não se emendavam!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Equívocos (ou da irredutibilidade de alguns conceitos)


Uma colega de longa data encontrando-me recentemente disse-me :
- "Esta gente está louca, ainda não se aperceberam que os melhores professores, os mais experientes e dedicados estão a ir-se embora, reformando-se muitas vezes mais cedo e com grandes prejuízos pecuniários. Será que ninguém lhes põe juízo na cabeça" ?!
Eu , sorri e retorqui:
- "São, eles não estão loucos. Estão apenas a cumprir o programa que lhes encomendaram"!
É que as pessoas da geração do 25 de Abril estão estupefactas e não querem acreditar, mas não se trata de má informação dos decisores políticos deste governo e desta maioria. Trata-se de actos deliberados e que originam um conjunto de equívocos decorrentes da irredutibilidade de significados para os mesmos significantes; mais do que uma questão semântica, é uma questão de pragmática.
O significado de termos como "competência", "saber","informação" ou "bom desempenho", estão longe de querer dizer o mesmo para pessoas como nós e para esta gente do tipo "apóstata" do pensamento que capturou o Partido Socialista e a "esquerda reformista".
Para eles, estes termos não têm que ver com a criação de autonomia e de independência intelectual, que era o significado corrente de tais expressões enquanto finalidades da educação. Nada disso, para esta "seita" a "Educação" consiste no mero adestramento mínimo para operar com teclados e na aquisição dos tais seiscentos vocábulos ( e ainda assim no limite máximo) do tal "technical english" que o "Zé" fez por correspondência, quando se "licenciou", "nothing more"!
Por isso, eles querem que tudo o que lhes cheire a cultura, autonomia ou espírito crítico, lhes faça o subido favor de se ir embora, melhor e mais barato se perdendo direitos, de modo a que fiquem com as mãos livres para "meterem" pessoal domesticado por metade do preço e a termo incerto.
Para fazer o que eles querem, chega!!!