sexta-feira, 24 de agosto de 2012

"The Match of the Box"




O Governo, pela voz do "ministro informal" António Borges (os amigos continuam a ser para as ocasiões, o homem foi corrido do FMI e não podia ficar à míngua), veio anunciar o encerramento puro e simples do Canal 2 da RTP (por acaso o único canal diferenciado em sinal aberto) e a privatização do Canal 1 e da RDP, ficando o Estado, no que deverá ser caso inédito no Mundo, incluindo os Estados Unidos, sem qualquer meio de comunicação audiovisual e consequentemente, digam o que disserem as luminárias/alimárias do costume, sem serviço público de rádio e televisão.
Fazendo um pouco de história, que é para isso que ela deve servir, podemos entender melhor a génese desta "dívida" contraída há mais de vinte anos. Se bem se lembrarão Cavaco, enquanto Primeiro-ministro, entregou um canal de televisão a Balsemão (a SIC) e outro à Igreja Católica (a TVI) - cujo registo foi tão piedoso que chegou ao "confessionário" do Big Brother (provocando o despedimento de Rangel da SIC por ter subestimado o "descaramento" tuga) e à  "ecuménica" "Oração da Bunda". Ficou a dever uma, não deu para todos, ao tempo a Proença de Carvalho. 
Pois bem, chegou a hora  de Passos e Relvas pagarem essa promessa, aproveitando a conjuntura, para continuar a ir "além da troika" e "custe o custar", a esse ou a outro grupo capaz de garantir que o "show is going on".
Os limites para a pirataria só podem radicar na resposta firme e no sobressalto cívico que impeça estes díscolos do "nacional neo-liberalismo" de bater Salazar aos pontos no desleixo pelo interesse público. Estes tratantes que como curricula de vida têm a "experiência" nas "empresas" dos padrinhos que depois "vendem" serviços ao Estado e a instituições públicas ou de utilidade pública (vide declarações recentes de Helena Roseta) e terem feito, tarde e a más horas, "licenciaturas" por "equivalência" em "universidades privadas" urdiram um plano de desmantelamento do País que só pode ser travado pelos gritos de "maton o Meestre" do povo evocado por Fernão Lopes.
E desta vez guardemos os cravos para depois...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Erro de Marcelo



 O Professor Marcelo Rebelo de Sousa deu ontem na sua charla televisiva semanal da TVI, uma "tenda" monumental ao imputar ao governo Sócrates II o confisco de metade do subsídio de Natal de 2011 a todos os trabalhadores (dos sectores público e privado). Judite de Sousa viu-se na "dolorosa" obrigação de ter de lhe "avivar a memória", algo que ele notoriamente teve dificuldade em "engolir". 
Se era para "morder as canelas" ao "engenheiro" e ao PS, podia ter-se lembrado dos cortes salariais à Função Pública que, embora marginalmente, também o afectaram (ele está sempre a encher a boca com o facto de, também, ser Funcionário Público, os outros é que não são, em regra, jurisconsultos e comentadores bem pagos). Mas parece que desse "ligeiro pormenor" já ninguém se "lembra", uns porque têm o esqueleto no armário e não querem que o povão recorde quem abriu a porta, os outros porque tendo-a encontrado aberta, estão a completar o saque.
Há no entanto um "mistério" cuja natureza me escapa. É normal que assim seja, se o  não fosse não seria um "mistério" que é, por essência, sobrenatural. Por que bulas, ou espécie de "pudor", essa "amnésia" se estende à esquerda mais à esquerda e nem o PC, nem os "Verdes", nem o Bloco, nem muito insistentemente os sindicatos (incluindo os da Função Pública), tocam no assunto?!
É que perante tal mutismo, parece que "no ha pasado nada hombre"...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Desgosto do Madiba

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Nelson Mandela deve ter chorado quando na pátria que se afirma ter conseguido (re)conciliar, a polícia, desta vez sem a ominosa chancela do "Apartheid", mata  a sangue frio mais de trinta mineiros que se manifestavam, talvez não pacificamente, mas exibindo armas tradicionais cujo  putativo impacto, mesmo se utilizadas, nada terá que ver com o das pistolas-metralhadoras com que foram alvejados.
A projecção dos ícones e a realidade das coisas costumam dar-se na razão inversa uma da outra - quanto mais se mitificam personalidades, menos se respeita o seu  exemplo e o seu legado. 
O efeito da abundância de recursos naturais parece ser uma benção em pouquíssimas paragens (a Noruega e pouco mais) e uma maldição um pouco por toda a parte, numa espécie de confirmação empírica da sinistra "teoria dos trópicos" ou dos "hemisférios".
Conta-se que Salazar quando informado da existência de petróleo em Angola, terá exclamado:
- Estamos tramados!
Findo o colonialismo (pelo menos aquele mais à descarada), abolida a discriminação pela cor da pele e instaurada a democracia (nem que seja à catanada), não corre, nem nunca chegou a correr, o leite e o mel pelas ruas dessas "Terras Prometidas" e o "Apartheid" é agora, sem outros disfarces, entre que tem e quem não tem.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O "Pino" e o "Lino"



Passos foi ao "Pontal", desta vez em Quarteira (o "Pontal" é, pelos vistos, uma festividade ultra-móvel), anunciar, mais uma vez, o "fim da crise".
O anterior anúncio do mesmo teor fora feito em Outubro de 2006 por Manuel Pinho, (sim, esse mesmo, o do "Allgarve" e dos "corninhos"), então ministro da "Economia & Inovação" (o que quer que isso queira dizer) e teve a original característica de anunciar o dito "fim da crise" antes mesmo dela ter sequer começado.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mano Caetano






Caetano Veloso,  um dos meus "ídolos" de juventude (para dizer a verdade, nunca fui muito dado a "idolatrias" mas, por comodidade de linguagem, fica assim) faz hoje setenta anos. A sua revelação fez-se para mim através de um álbum: "Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo" gravado em Novembro de 72 no Teatro Castro Alves em Salvador da Bahia, ouvi-o em casa do meu amigo João Paulo Carvalho (um "monstro" de bom gosto, sempre na vanguarda) - mais precisamente em casa da avó dele, onde havia uma "câmara escura" para revelar fotografias e onde costumávamos fazer algumas coisas que não era lá muito conveniente serem feitas às claras - e comprei-o de imediato, ainda é um dos que, em vinil, guardo religiosamente.
É uma obra-prima sob todos os pontos de vista: musical, poético e, como agora se diz, performativo.
Quando o ouvi pela primeira vez tinha dezasseis anos, Caetano trinta - os nossos "heróis", mesmo os de "geração", são sempre algo mais velhos que nós, hoje pouco ou nada se nota. A sua carreira, não totalmente como a de Chico Buarque (que, parecendo fisicamente mais velho, é dois anos mais novo), tem oscilado entre o sublime e uma integração no "mainstream" feita, ainda assim, com a mestria que porventura falta à quase totalidade dos que já lá nasceram (e lembro-me do caso semelhante de Sérgio Godinho),  dentro do que se chama "envelhecer bem", se bem que envelhecer nunca é, nem pode ser, diga-se o que se disser, assim muito agradável. Ele próprio confessa que quando se "vê" a si próprio, não vê um bebé, nem um velho, nem sequer um homem "maduro", vê sempre um jovem adulto. Não fosse o Homem o animal capaz de conservar a juventude (pelo menos como representação) por toda a vida, capaz de brincar, de rir, de jogar. É claro que o corpo acaba por não querer saber disso para nada e por muita sabedoria e sensatez, que até como mecanismo de defesa, a idade nos venha trazendo, nada reacende, a não ser a espaços, o fulgor que, mais ou menos a pouco e pouco, o tempo vai matando.
Não é preciso ter feito pactos fáusticos como o do "Retrato de Dorian Gray" ou vivido distopias como "O Admirável Mundo Novo" para entender que a imagem que Caetano tem de si próprio e nós sempre teremos dele, é a do "leãozinho".

sábado, 4 de agosto de 2012

Anjinhos de Cara Suja





  1. Uma das discussões mais demagógicas da actualidade (des)educativa é a querela do número de alunos por turma em que há de tudo, desde os que achavam que era muito elevado com  26 no tempo do outro "engenheiro" e agora, com este "doutor", 30 já é aceitável, até aos que nos compararam já não com a Finlândia mas com a Turquia, o  México, o Brasil , a Indonésia, a China e as Coreias (que nisto são parecidas) para "albardar o burro à vontade do dono" (que, com o cinismo próprio dos mercenários, só quer fazer passar por "pedagógicas" - e a "pedagogia" tem as costas largas - medidas que têm por único objectivo poupar uns cobres à custa da vida de muitos) e "fundamentar" o argumento da "irrelevância" desse factor nos resultados escolares. Faz-me lembrar a defesa da "descentralização" do Poder, que só ocorre a certas forças políticas quando calha a estarem na Oposição.
    Quando entrei, com 10 anos de idade,  para o 1º ano no Liceu de Gil Vicente, em Outubro de 1966, as turmas tinham cerca de 40 alunos, até um pouco mais, 41, 42 (e só rapazes). Mas os professores, nesse tempo, faziam apenas o que se continua a dizer que fazem agora, só davam aulas. Hoje é o que menos acabam por fazer, tal o peso da papelada e da palhaçada no Sistema. 
    Fiz a Instrução Primária (entre 62 e 66), da primeira à quarta classe, numa só sala e com uma única professora. É verdade que ela tinha um arsenal de "auxiliares pedagógicos" tremendo - palmatórias, ponteiros, canas-da-índia e até os sólidos da Geometria, mormente as esferas de madeira dura, serviam de projécteis que ela atirava, com infalível pontaria, à cabeça dos tagarelas.
    Se for possível restaurar esse "saudável" clima de aprendizagem, o número de alunos por turma será quase, quase, irrelevante.

domingo, 29 de julho de 2012

Sílvia Nazário e o Colar de Lollipops



Há coisas que não consigo entender. Uma delas é a razão porque a Sílvia Nazário não é uma vedeta internacional. Tem tudo, e muito mais, para o ser, menos o vedetismo. Ontem, mais uma vez, no BeJazz o provou, e já não tem que provar nada a ninguém. Ela, Cláudio Kumar na viola acústica, e o convidado Francisco Andrade no sax (o BeJazz tem destas surpresas, há sempre lugar para mais um e o "povo" agradece) fizeram mais uma noite inesquecível de Bossa Nova.
Já não me lembro bem se foi o Vinicius ou o Tom Jobim, mas foi ainda nos anos 60 e era ainda muito miúdo, que "explicou", na televisão, o fenómeno "Bossa Nova" desenhando um camelo com três bossas, a última era a "Bossa Nova".
 E é sim senhor, "nova" para sempre com intérpretes como a grande Sílvia Nazário que ontem envergava um lindíssimo colar de "Lollipops".