segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Forte Contributo

É evidente que os professores e os funcionários públicos em geral (pelo menos os que não são da "cor") deram um forte contributo para a queda da maioria absoluta do PS/Sócrates. Ao alienar a sua tradicional base social de apoio, Sócrates cometeu um crasso erro estratégico e revelou irracionalidade táctica absoluta. Para o comprovar é só fazer as contas aos ganhos (poucos) e perdas (muitas) - pois "à primeira qualquer cai, mas à segunda só cai quem quer".
Afinal esta "grande vitória" - tão grande que o "Querido Líder" nem foi ao Rato e esteve-se "borrifando" (para não usar um vernáculo mais "carregado") para os poucos militantes e simpatizantes, verdadeiramente populares, que lá estiveram (afinal não é apenas o Louçã que tem relutância em apertar a mão às peixeiras).
Assim se confirma mais uma das infinitas vezes o aforismo de Kierkegaard acerca dos políticos - "nunca falam para indivíduos, mas apenas para multidões".
Bem pode o PS cantar vitória que o que o certo é que perdeu mais de meio milhão de votos, cerca de 9% dos eleitores e mais de vinte lugares no Parlamento que agora voltará a sê-lo em pleno e não apenas a câmara de eco do Feiticeiro de Oz.
Para o PS/Sócrates esta queda do pedestal da maioria absoluta bem pode ser o princípio do fim. Ficou, como se diz na gíria futebolística, a não depender apenas de si próprio e terá de fazer uma coisa a que não está habituado - negociar. Vamos ver como se sairá, sabendo nós que o panorama é sombrio e que, em função disso, as lutas sociais se irão agudizar.
É minha convicção que o Directório (mais do que "trilateral") que toma as decisões políticas cujo testa-de-ferro é Sócrates, irá optar inicialmente por um Governo Minoritário (tipo Guterres no formato, que não no estilo) e tentará negociar apoios parlamentares a la carte; esse modelo irá ser marcado pela intransigência negocial, sem qualquer vontade séria de diálogo com o objectivo implícito de inviabilizar acordos. Então e alegada a "ingovernabilidade" (sobretudo à esquerda), poderá evoluir para uma Coligação ou de Bloco Central ou, mais provável, com o CDS. Portas está "mortinho" por se sentar de novo à mesa do Conselho de Ministros e dará por isso muito mais do que os "oito tostões" que lhe sobram.
Portas é o grande real vencedor destas Eleições, conseguiu com o seu enérgico one man show criar uma dinâmica populista que contrastou com a "falta de jeito" do PSD, cuja líder se revelou de uma rigidez que roçou o rigor mortis que hoje não "cola" (Sócrates por exemplo sendo essencialmente rígido é melhor "actor de telenovela baratucha"); apresentando-se de forma reactiva (pronta a "rasgar", a "não fazer") perante um País que elege a fuga para a frente como forma rotineira de vida (senão vejamos a quantidade de automóveis e fogos que são adquiridos sem meios e depois devolvidos a fortiori) e sem "promessas", quando o eleitorado adora "promessas", mesmo que, como Sócrates fez, depois não sejam para cumprir, antes pelo contrário. Ficou ainda marcada pelas incoerências no domínio da "Ética" com os "casos" Preto e Lopes da Costa e, pior dos piores, deixou-se escorregar numa "casca de banana" e envolver na teia nebulosa do chamado "caso
das escutas" em que fez figura (não sei se merecida) de arroseur arrosé.
Todos esperamos ansiosamente que Sua Excelência o Senhor Presidente da República se decida a dizer o que prometeu acerca de tão aparatoso incidente.
Pior só mesmo Santana Lopes (que a propósito e contra a "teoria dos ovos e dos cestos") deverá perder a "corrida" para a Câmara de Lisboa.
Portas foi o único a aguentar com sucesso o embate com Sócrates no mano-a-mano televisivo e explorou os nichos eleitorais da insegurança e da arbitrariedade dos apoios sociais assumindo o "politicamente incorrecto" com proveitos a que todos os outros (PSD incluído), por medo da rotulagem ou por falta de soluções, renunciaram. Num País em que o salário mínimo é de 450 Euros e há quem receba de Rendimento Social de Inserção (vulgo "Rendimento Mínimo" que nada e ninguém insere) vários múltiplos disso sem nunca ter descontado, nem pago impostos e, em certos e não poucos casos comprovados a olho nu, exibindo sinais exteriores de riqueza (automóveis e consumos supérfluos) que, muito justamente, indignam quem trabalha no duro, ganha pouco, tem despesas essenciais que ninguém subsidia e ainda por cima, paga impostos; tal campanha teve necessariamente eco.
Captou assim os sufrágios da fragilidade - dos idosos, das mulheres e dos jovens obrigados a viver na "selva" urbana e suburbana expostos a todo o tipo de agressões numa clima social de insegurança que é muito mais do que "psicológica" como os "encobridores" a costumam classificar.
Portas jogou de mestre, ainda que ao apanhar-se no Poder pouco vá ligar as esses compromissos e vá estar mais virado para submarinos, sobreiros, Women on Waves e coisas desse jaez.
O Bloco foi uma semi-desilusão, sendo certo que capitalizou o descontentamento do eleitorado tradicional do PS que este estupidamente alienou (com a ilusão da descartabilidade da direita perante as medidas efectivamente neoliberais que tomou ainda que a coberto da retórica do "Estado Social") não conseguindo, e isto é capaz de ser positivo por constituir uma "bolsa" de reserva de crescimento, transferir para si o máximo possível de eleitorado.
Isso ficou a dever-se à súbita incapacidade que Louçã teve de enfrentar a "cassete" de Sócrates no debate entre ambos em que não conseguiu por falta de ímpeto, de "reflexos" e de "agilidade", denunciar a má-fé dos argumentos contrários, descontextualizados e matraqueados até à exaustão o que não teria sido díficil.
Quanto ao "ataque fiscal à classe média" bastaria "curar a dentada do cão com o pêlo do mesmo" e relembrar a subida generalizada de impostos promovida pelo Governo e as declarações recentes de Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças, em relação ao provável destino das deduções fiscais de Saúde e Educação e ficaríamos esclarecidos; quanto ao Programa do Bloco ser "secreto" como afirmou Sócrates, bastaria perguntar-lhe como o tinha na mão? (se calhar soube-o através de alguma "escuta").
Outra inabilidade foi, sendo doutourado e Professor Catedrático, deixar-se tratar pelo nome próprio sem títulos, perante uma audiência que os endeusa, por um bacharel com uma "licenciatura" feita por fax a quem tratou por "engenheiro". Ainda por cima entrando em perdas de tempo autojustificativas quando era a ele que lhe competia atacar; outro "erro fatal" foi não ter pegado em "directo e ao vivo" no tema "Educação" um autêntico manancial, com todo o potencial cinético, explorando as grossíssimas asneiras do Governo/Sócrates neste sector.
Depois a Campanha entrou em "banho-maria" e tudo girou em torno de fait-divers com os PPRs e as Acções de Empresas Públicas etc.. Note-se que aqui os mídia controlados pelo Poder ou tendo que ser "simpáticos" para ele já não dispensaram ao Bloco a "meiguice" do costume (agora era a "doer", o que estava em causa era demasiado importante e o PCP depois das "europeias" por já estar "de rastos", não requeria mais "pancadaria", de tal modo, que o próprio Sócrates se excedeu em elogios a Jerónimo de Sousa). O Bloco também errou, ainda que lateralmente, ao abandonar totalmente o discurso das causas "fracturantes" uma vez que o deixou inteirinho para o PS, quem tiver dúvidas repare nas bandeiras "arco-íris" ao lado das da "mãozinha" e da "rosa" no Altis.
É certo que the first things first e os portugueses terão mais em que pensar na actual conjuntura, mas é um erro abandonar completamente o "campo", sendo certo e sabido que alguém o ocupará.
Importante também a quebra do potencial de negociação e na "moral" das "hostes" do Bloco por ter sido, mais uma vez contra as projecções (ena tanta mentira junta) e contra a "fanfarronada" de Louçã no Comício de Encerramento, ultrapassado em votos e principalmente em número de mandatos (mais quatro) pelo CDS/PP.
A CDU, quer dizer o PCP e os seus "satélites" ficcionais - "Os Verdes" e outras eventuais não-existências, vão alegremente de "vitória" em "vitória" até à derrota final e se é certo que até elegeram mais um deputado (ficando com quinze), não é menos certo que se deixaram ultrapassar pelo Bloco pela segunda vez consecutiva passando a quinta e última força parlamentar e perdendo o lugar na Mesa da AR.
Não será, certamente, só com "manifs" sindicais, greves, Festas do Avante, t-shirts do Che, entreameadas, "caipiroskas" e "mentiritas" que ça ira.
Se bem que nas Autárquicas outro galo venha a cantar e isto também se aplica ao PSD, também é certo que esse é outro campeonato.

4 comentários:

Alberto disse...

Pois é assim fica demonstrado que , que o "lavrador ", semeou mal e colheu pior! Fica demonstrado que lideres pseudo- democratas que pretendem premanecer no poder não devem ser narcisistas, aconteceu assim agora,como no passado tb aconteceu com um o homem do bigodinho. Ao contrário de homenzinho da Madeira esse é coerente em tudo menos na parte do narcisistas.

Anti PS Neoliberal disse...

Por falares em Autárquicas, embora já não more no Barreiro ainda ai voto, quando fui exercer o meu dever encontrei um candidato a uma freguesia que me perguntou o que eu achava, que poderia acontecer face ao elevado numero de votantes, ficámos ali a falar um pouco até que me apercebi que ele mais os outros todos estavam a contar limpar aquela junta mais umas tantas assim como a Câmara ao PCP, só não me ri na cara do simpático senhor porque não o conheço de lado nenhum embora ele me conheça a mim, ou seja é mais um dos outsiders que entraram agora no PS à pressa para discutir lugares, quando esses lugares não existirem vão bater à porta de um outro qualquer partido que caia na esparrela de lhes abrir a porta, aqui como ali e acolá o PS está cheio desta gente que mais parecem vampiros à espera de sugar o sangue dos tachos que o partido possa ter, quando não existir sangue nos tachos mudam de Transilvânia ou seja de partido.

Saudações Socialistas

imank disse...

Caro "Anti":
Para mim é óbvio que o PS vai ter um péssimo resultado nas Autárquiucas no Barreiro. As listas estão cheias de "senhores" e "senhoras" como esse, que ninguém conhece de lado nenhum e vêm agora "à babugem".
Há, no entanto, um risco que é precisamente o que referes, há muitos novos eleitoras que se não são "agarrados" pelo Bloco, serão presa fácil da demagogia "xuxa" que até já mostra a Ponte feita e tudo.
Além da "J" prometer "tachos" a todos (e dá-los, de facto, a alguns - os que conseguem "arrebanhar" os outros).
Por isso, se eu fosse ao Carlos Humberto e ao Durval "forçava a barra" e "caprichava" na Campanha.
Até porque a candidatura do PSD é muito fraca, não por demérito do Banza, mas por falta de visibilidade e em terras como o Barreiro com muita população de "dormitório" é sempre maior o fenómeno do arrastamento de votos de uma eleição para outra e estas estão muito perto.

Saudações Socialistas!

ARISTIDES DUARTE disse...

Caro Imank:
Eu dei o meu modesto contributo para tirar a maioria absoluta ao PS. Acho que os professores também deram o seu modesto contributo.
Estranho que , agora, se diga que o PS ganhou e teremos que o aturar mais uns anos. Mas queriam a Manuela como primeira-ministra? Sendo realista , como sou, e sabendo que em Portugal só PS e PSD têm condições para ganhar as eleições (isto está assim o que há-de fazer?)vejo muitos professores a queixarem-se que ainda têm que aturar o Sócrates mais quatro anos. Muitos desses foram dos tais que votaram no Bloco de Esquerda. Queriam ou julgariam, se calhar, que votando BE , o Louçã seria primeiro-ministro.
Antes desta campanha eleitoral sempre ouvi falar que o que interessava era tirar a maioria absoluta ao PS. Afinal, agora, já interessava outra coisa. Não entendo.
Mas como eu também sou atrasado (votei nos tais últimos , a CDU, embora não seja militante de nada)não devo perceber por causa disso.
Mas sempre direi que a tal força que o CDS e o BE apresentaram agora , bem a queria ver nas autárquicas. Aí é que se vê , também, a influência nacional que estes dois partidos gostam de apregoar.
Ver uma relação de 1 para 25 (ou mais) de Câmaras conquistadas pelo CDS e pelo BE, em relação à CDU é que não me parece nada de partidos que têm muita força.
Aqui no meu concelho, à falta de propostas, o CDS apresenta um cartaz com a candidata a presidente da Câmara e o Paulo Portas , com o slogan "Venha Connosco". O Bloco nem concorre.