quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"Quem não se sente..."

Hoje e dado o contexto, vou "postar" "corporativamente" para fazer jus ao epíteto com que fui "brindado" pelo Primeiro-Ministro em exercício e seus apaniguados.
Como digo neste blog sou professor desde 76/77, mas também sou co-fundador da Secção do Barreiro do Partido Socialista ainda em Abril de 74 (mais precisamente no dia 29 de Abril, uma segunda-feira) e, escusado será dizer que arrostei com o risco, elevado na altura, de ser militante e ainda por cima "pioneiro", do PS em terra "vermelha" - o Barreiro, a "Moscovo Ocidental" como era, até internacionalmente, conhecida desde os anos 40.
O mesmo se passou na Universidade de Lisboa quase totalmente dominada pela UEC, a organização estudantil do PCP, sectária e caceteira. Em ambas as situações tive muitas vezes que enfrentar a violência, muito mais do que verbal, das "Brigadas Brezhnev". Enquanto isso, o actual Primeiro-Ministro era militante da JSD, a actual Ministra da Educação era "anarquista" e os Secretários de Estado da mesma pasta, um, ao que sei, sindicalista esquerdista e o outro iniciava a sua "carreira política" pelas bandas do CDS.
Hoje estão todos no PS ou nas suas (in)dependências e são responsáveis por uma das maiores guerras sociais de que há memória em Portugal - a autêntica guerra que moveram aos professores. E qual foi o casus belli?
O facto de, contrariamente ao proclamado quer durante a Campanha Eleitoral de 2005, quer no Programa Eleitoral do Partido Socialista desse mesmo ano, o Governo Sócrates ter encetado um programa oculto, um programa encapotadamente neoliberal, de alegado "combate aos lobbies" e aos "interesses e privilégios corporativos" - aos juízes e magistrados em geral, aos farmacêuticos, aos médicos e enfermeiros, aos militares e também aos polícias, de resto, a toda a Função Pública, afinal a que "trabalha menos horas, têm mais dias de férias e é a mais bem paga da Europa". Mas que serviu como "cortina de fumo" para deixar de fora e incólumes os verdadeiros interesses e privilégios, dos verdadeiros lobbies e das verdadeiras corporações - os Bancos e Seguradoras, os grandes monopólios de facto das Comunicações e Energia (GALP, EDP, PT) e as grandes superfícies comerciais. Enfim, a "Irmandade do Cifrão" e os vigaristas de médio e alto coturno cujos lucros são privados, mas cujos prejuízos são pagos por todos os que pagam impostos.
Ao fim e ao cabo, depois de, alegadamente para combater o défice orçamental, terem congelado as carreiras e as progressões, aumentado a idade da reforma e a carreira contributiva, mudando as regras a "meio do jogo", detiveram-se com afinco e particulares "requintes de malvadez" num único grupo profissional: os professores - a quem saiu a "fava" e quiseram fazer de "bode expiatório" de todos os males da Educação resultantes de políticas asnáticas e de chagas sociais causadas pelos "desgovernos" que temos tido.
É que, segundo o que acabou por confessar o "insigne" Marcos Perestrello, certamente um expert em estratégia política, usando as velhas tácticas da "argamassa" e do "salame", ou seja, pôr todos "à molhada" para depois cortar às fatias: "era preciso criar alguma tensão sobre determinados sectores para que a população aceitasse as medidas".
Ora, teriam feito bem melhor se tivessem ido "criar tensão" com as respectivas mãezinhas!
Estou a declarar neste post que, sendo filiado no PS e tendo contribuído activamente para a maioria absoluta ainda em exercício, não votarei desta vez neste PS, assim como não votarei PS em circunstância alguma enquanto se mantiver a Direcção/Sócrates que usou todo o aparato do Governo e o aparelho do Partido que eu ajudei a implantar em território díficil, para mover uma autêntica, e esta verdadeira, campanha negra de mentiras, calúnias, injúrias, humilhações e aviltamento do estatuto profissional e social dos professores, minando a dignidade e consequentemente a legítima autoridade, ainda que pretextando hipocritamente o contrário, visando instabilizar, desmotivar e conduzir ao abandono precoce da profissão de todos os que depois de darem tudo, o acabaram por fazer.
De darem tudo mesmo: de terem andado durante anos e anos literalmente com a "casa às costas" a dormir em quartos alugados e a comer "meias doses" com salários miseráveis. Mas disso já se esqueceram!!!
Uma guerra social sem precedentes com graves consequências actuais e futuras, desrespeitando e incitando ao desrespeito sobre aqueles que deveria respeitar e fazer respeitar. Apoucando e aviltando quem lhe era mester enobrecer.
Foi uma verdadeira campanha de ódio, excitando o que de mais baixo há na condição humana - a inveja sem motivo objectivo e o ressentimento social tipicos de um país velho e pobre onde se consegue com a propaganda adequada que toda a gente passe a odiar toda a gente, porque toda a gente acha que por mais magra e enfezada que seja "a galinha da vizinha é sempre mais gorda do que a minha".
Através do recurso infrene e despudorado a apelos "justicialistas" ao "nivelamento por baixo", a comparações descontextualizadas (em que, aliás, Sócrates e os seus advisors são especialistas), à mais completa má-fé, à burocratização absurda da profissão docente e à sua funcionarização como estratégia punitiva sem qualquer proveito sistémico, ao alongamento dos horários com inanidades e inutilidades cuja finalidade única é o vexame público, a uma pseudo-"avaliação" em que afinal as aulas acabam por não contar, mas em que conta apenas a "sacrossanta" papelada, à intimidação constante nos locais de trabalho pelos "bufos", "capatazes" e tachistas de serviço, que os há sempre. Promovendo uma fractura da carreira completamente despropositada com a única finalidade de fazer de uns "polícias" dos outros, ao clima de mentira e perseguição constante que fez com que iniciemos os anos lectivos longe do entusiasmo de outrora e já completamente extenuados, as fraudes do facilistismo e do pseudo-"sucesso", a arrogância e a mesquinhez desta "tropa fandanga" a começar pela tríade ministerial e acabar no "chefe", merece, que desta vez, como já nas Europeias, se temos brio e "vergonha na cara", não votemos no PS.
Colega: "Quem não se sente não é filho de boa gente!!!"
Se não queres mais quatro anos, pelo menos, de ditadura das bestas arvoradas e de escravatura burocrática.
Desta vez - faz como eu, passa a palavra e - Não votes PS!!!

10 comentários:

Luis Braga disse...

Este post muito bem escrito é um verdadeiro grito de alma de quem, há muito tempo ,lhe reconheço de forma consistente HONESTIDADE E CORAGEM INTELECTUAL!

um afectuoso abraço

Carlos Botelho disse...

Um post decente e corajoso.
Um abraço!

Anti PS Neoliberal disse...

Caro António José Ferreira

Eu compreendo e aceito todos os teus argumentos, assim como, acho que esta luta encetada pelo Governo Socrates contra uma classe é uma loucura e nefasta para o ensino em Portugal, no entanto não deixo de te fazer esta pergunta, se não fosses professor ou se este governo em vez de atacar a classe dos professores atacasse outra qualquer, tomavas a mesma atitude.

Atenção, eu também JÁ não voto PS.

imank disse...

Oh Caro Anti PS Neoliberal:
Essa é uma pergunta de impossível resposta e, com todo o respeito, faz-me lembrar aquelas do tipo "se a minha avó tivesse rodas será que seria uma bicicleta?".
Repara que não estamos propriamente a fazer especulação moralista, estamos no campo da Política e neste território o que conta é o que é, não o que seria se ...
No entanto, posso afiançar-te que nunca apoiei Sócrates no PS. Fiz a campanha interna do João Soares e "adivinhei" o que se iria passar
(queres conhecer o vilão põe-lhe o pau na mão).
Mais - dos líderes em exercício no PS só apoiei Jorge Sampaio, nem sequer apoiei o simpático Guterres (que "inventou" Sócrates e teve por corte outros "Sócrates"), cheguei mesmo, nesse tempo, a ser eleito por uma lista encabeçada pelo Henrique Neto.
Não sei se chega para currículum anti-socrático?!

ARISTIDES DUARTE disse...

Eu ainda não votei (são 10h e 22 minutos de hoje, domingo), mas lá irei. Contra o PS, claro, para derrotar todas as malfeitorias tão bem explanadas neste "post". É assim mesmo, Imank!!!
Quem não se sente não é filho de boa gente e eu considero-me folho de boa gente.

quim disse...

Lá ganhou o Sócrates com o voto da ralé invejosa que se satisfaz por a maioria ficar tão mal quanto ela, e uma campanha contra si próprio do PSD. Vá lá, vá lá... sem maioria absoluta... Já agora, o 3º lugar do CDS é culpa directa da má campanha do Louçã, apesar de parecer encantado com o resultado. A CDU continua igual a si própria, anquilosada e vítima de alzheimer, satisfeita por manter as hostes numa altura em que tinha todas as condições sociais para crescer.

imank disse...

Tens absoluta razão Quim: a boa notícia é que o Sócrates perdeu a maioria absoluta (em grande parte graças aos professores), a má é que o Bloco ficou aquém e foi ultrapassado pelo Portas.
Enfim:
Entre mortos e feridoa alguém
há-de escapar!
Um abraço!

Anti PS Neoliberal disse...

Caro António José Ferreira

Fomos derrotados nestas eleições, quando digo "fomos" estou a referir-me a quem como eu perfilha os ideais de esquerda do PS que aprendemos nos idos anos 70 e que o BE tão bem tem incorporado, embora não se confine à fronteira dos 9,9% transvazando quer à sua direita quer à sua esquerda, quando digo derrotados estou a referir-me ao somatório do BE e PS não darem maioria absoluta, deixando em aberto a única coligação possível PS/CDS.

Não tenhamos a menor duvida, é o que vai acontecer.

Se me permites, Saudações Socialistas.

imank disse...

Caro "Anti":
Concordo com a tua análise - é claro que o Portas está "mortinho" por vender o apoio parlamentar que ficou em condições de regatear.
Não tenho a certeza de que irá haver propriamente "colugações"; penso que Sócrates, numa primeira fase, irá tentar o Governo minoritário com apoio parlamentar "a la carte" e só depois alegando "ingovernabilidade" se atreverá a um passo como esse. Entretanto a luta social subirá exponencialmente de tom e a ver vamos (não como dizia o cego, mas como nós queremos - "ver claramente visto").
Saudações Socialistas!

imank disse...

Errata

Caro "Anti":
Claro que quis dizer
"coligações" e não o que está no post que é "gralha" (olha se fosse "pêga").
Um abraço!