Ficou célebre o clamoroso erro de avaliação social de Emídio Rangel enquanto director da SIC ao, após uma época dourada de sucesso de audiências, ter recusado exibir a versão nacional do "Big Brother"; erro que lhe foi "fatal", pois acabou por lhe custar o lugar e permitiu que a TVI que "pegou" no programa que SIC "largara", a ultrapassasse até hoje.
Rangel subestimou a permeabildade do português comum à "modernidade" mediática, julgou que o pudor "católico" que constituira o estereótipo do "português suave" ainda vigorava. Enganou-se e para seu próprio prejuízo os portugueses mostraram-se tanto ou mais "desavergonhados" do que os outros povos "modernos".
Essa falta de pudor, esse abandono do cuidar, nem que seja das aparências de "moralidade", hipócrita ou não, deu lugar a um "desaforado" descaramento social que até se engalana de proselitismo.
Digo isto a propósito da data que hoje ocorre e assinala o "Dia Mundial do Idoso" que traz à colação o deplorável estado da assistência pública e mesmo privada que dedicamos às chamadas terceira e ,agora, quarta idades, a falta de respeito, dignidade e simples decência com que são tratados os cidadãos que cada vez vivem mais tempo, mas em piores condições.
As duas qualidades essenciais da governação contemporânea não são da esfera da acção, são antes a (má)retórica e a (boa)estatística e mesmo apesar de toda a demagogia, as carências são espantosas.
Temos um parque assistencial claramente deficitário, de baixíssima qualidade material e humana, permeável a ser explorado como um "negócio" escabroso e rapace, em que se empregam pessoas por exclusão de partes (e que portanto fazem aquilo - supostamente cuidar de idosos - por que não arranjaram mais nada e mesmo assim, nos intervalos dos subsídios), logo sem qualquer vocação e/ou preparação para o efeito que também está longe de lhes ser ministrada. Sendo um daqueles inúmeros sectores da sociedade portuguesa em que são necessários empenhos e "cunhas" para enfiar alguém num "Lar" muito minimamente decente e em que até a Santa Casa da Misericórdia (não esta ou aquela em especial, mas todas no seu conjunto), se é que alguma vez o foi, há muito o deixou de ser.
E não se trata de esmolas mas de direitos; quando vêm uns "engraçadinhos" neoliberais de trazer por casa, opinar que: " O Estado não pode fazer tudo".
Pergunta-se-lhes: Afinal para que deve servir o Estado? Apenas para tapar os buracos financeiros que os vigaristas provocam?!
As pessoas pagaram, fizeram descontos durante décadas, pagaram impostos, não estão a pedir que lhes seja dado nada, mas apenas que os seus legítimos direitos sejam respeitados.
À falta de tempo e de disponibilidade soma-se a falta de vontade e gratidão das famílias agora "libertas" por essa "nova" e liberal "moralidade" que permite que se "descartem" sem problemas de consciência dos "fardos" a que nesta sociedade da não-inscrição (cf José Gil) os que são chamados como costumavam ser os "trapos", constituem. Assim à descarada, sem remorsos, nem culpabilidades, nem pesos na consciência, que são tudo conceitos "passadistas" e que impedem que os que ainda podem vão, garganeiramente, "gozando a vida".
Este país não é mesmo para velhos!!!
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"No chão não, no velhão." (gato fedorento)
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