Os resultados das Autárquicas de 11 de Outubro foram sensivelmente os esperados com algumas, poucas, surpresas, mantiveram o PSD como força com maior número de presidências quer de municípios, quer de freguesias, o PS teve alguns ganhos, sobrelevando os de Lisboa, Leiria e Beja e algumas perdas de vulto, Faro e Espinho; mas pontuou em termos globais ainda que não concretizando algumas expectativas como Setúbal e “fogachos” como a expectativa de última hora criada em torno de uma hipotética “transposição” de resultados das recentes Legislativas, que saíram totalmente goradas.
O “povo é sereno” como disse o almirante “sem medo” e tem a maturidade suficiente para não misturar “alhos com bugalhos” e distribui bem os “ovos” pelos “cestos”.
A nível nacional e nas mais mediatizadas autarquias prevaleceu um certo bom senso. Em Lisboa ganhou António Costa, político muitíssimo bem preparado, com grande capacidade de trabalho e diálogo efectivo, com a preciosa ajuda de Helena Roseta e do “Zé” Sá Fernandes, que mobilizou a esquerda do Partido Socialista, com Manuel Alegre em campanha e com transferência de votos da CDU e do Bloco, pois a parada era demasiado alta e era preciso impedir a “recaída” Santana Lopes, o que se conseguiu por uma “unha negra” (afinal e o que interessa é o resultado: “A vitória foi difícil, mas foi nossa” e, “virtudes” do Método de Hondt, com maioria absoluta)).
No Porto a vitória foi, como era de esperar, de Rui Rio demonstrando que, como aliás aconteceu em Sintra, o povo não gosta de ser “gozado” ao ter como candidatas alternativas por parte do PS duas senhoras de inegável valor, mas previamente bem sentadas no Parlamento Europeu, o que obviamente, e em política o que parece é, lhes diminuiu muito a apetência real pelas respectivas edilidades; os resultados e a campanha do Porto provam a “migração“ do PS de partido dos pobres para partido dos “pobrezinhos” e da manutenção de um certo status quo assistencialista estribado no “politicamente correcto” mas socialmente injusto (sabiamente capitalizado por demagogos como Paulo Portas).
Já em Faro o resultado pode ter sido objectivamente injusto, Apolinário foi um bom presidente de câmara, mas a “promessa” Macário, com obra feita ali mesmo ao lado, foi mais sedutora e ainda que por pouco, vitoriosa.
O populismo “forte” foi recompensado, Isaltino e o major Valentim lá vão continuar a sua “obra” com evidente reconhecimento eleitoral; já o populismo “fraco” foi punido, Fátima Felgueiras e o “errante” Ferreira Torres viram-se preteridos e castigados por “maus passos” anteriores demonstrando a sagacidade do provérbio que afirma que é impossível enganar todos para sempre.
Ocorreram ainda resultados que configuram “surras” monumentais e que decorreram do “carisma” dos candidatos – os de Moita Flores em Santarém e Luís Filipe Menezes em Gaia, ambos na casa dos 60% (só superados por uns “arrasadores “ 76% em Boticas, concelho com, evidentemente, muito menos exposição e “massa crítica”).
Ocorreu ainda na Freguesia de Ermelo, concelho de Mondim de Basto, um homicídio com raízes na disputa política local e que se constituí com um funesto sinal de até onde é que pode chegar a exacerbação das rivalidades, demais a mais em meios pequenos onde os “ódios” pessoais tentem a travestir-se em posicionamentos político-partidários.
A CDU perdeu sete câmaras entre as quais a de Beja, mas não faz mal porque ganha sempre!
O Bloco "prá frentex" que é contra as touradas e os rodeos exibe uma situação digamos que paradoxal - o único município que governa é o de Salvaterra, assim para o "marialva" e onde a aficion é regra.
Já o CDS/PP manteve o munícipio liminiano e está à espera do desfecho de Mondim de Basto devido à tragédia por lá ocorrida.
Cá pelo burgo a situação ao nível da correlação de forças retornou, mais coisa menos coisa, à que existia há vinte anos, maioria absoluta da CDU, muito por mérito desta força em especial do seu candidato à presidência da Câmara, Carlos Humberto e dos candidatos às presidências das Juntas, (o mesmo se passando em Coina mas ao contrário, com merecida e singular vantagem do candidato do PS), e por um enorme demérito da assumida alternativa - o Partido Socialista do Barreiro que protagonizou um recuo histórico assinalável, (lembremo-nos que a última maioria absoluta da CDU remonta a 89, quebrada pelo PS em 93 (com Emídio Xavier).
O PS local não só não recuperou a câmara que perdera em 2005 como retrocedeu em número de votos e mandatos deixando ao PCP/CDU o controle quase total dos destinos das autarquias do concelho.
Estes resultados explicam-se por várias razões:
- A “balcanização” interna do Partido a nível local com lutas de facções e de protagonismos e interesses que dão, justa ou injustamente, uma imagem de conjunto muito desfavorável de força em que o deficit de projecto político autónomo é aparentemente superado pela profusão de “projectos” pessoais e de grupos.
- A colagem a iniciativas governamentais, ainda que meritórias e mesmo essenciais para o desenvolvimento do concelho, da região e até do país, caso da Ponte, mas que transcendem largamente a esfera de decisão de uma Autarquia (o mesmo terá feito, mas mais moderadamente e com um timing mais acertado, a CDU). Neste particular o PS/Barreiro até revelou ao nível da propaganda falhas graves no domínio da tão decantada “ética republicana “ ao sugerir em outdoors de grande e média dimensão um “tratamento preferencial” por efeito de “simpatia” da parte do Governo Central à autarquia do Barreiro no caso de vitória local do PS (ou seja, insinuando o que toda a gente sabe, mas ninguém assume, de que vale mais ser “filho” do que “enteado”).
- A não demarcação e mesmo o seguidismo patente em todo o mandato anterior face a praticamente todas as posições do governo central, mesmo as mais polémicas (caso, só para exemplo, da não nomeação do representante designado pela autarquia para o Conselho de Administração do Hospital e da “empáfia” pública de dirigentes locais em relação a vários conflitos sócio-laborais ocorridos neste interim)) em que se deu uma imagem pública de maior preocupação em agradar ao Poder Central, vá-se lá a saber porquê, mas não será difícil suspeitar, do que atender aos legítimos interesses do Concelho contrariando até a longa tradição de autonomia do PS/Barreiro vastamente demonstrada aquando da firme oposição à instalação da ETRI em 97/98, também só para dar um exemplo.
- A falta de reconhecimento público de muitos dos protagonistas, com especial destaque para o candidato à presidência da Câmara Municipal que, independentemente dos seus eventuais méritos pessoais, não foi reconhecido pelo eleitorado a começar pelos próprios simpatizantes do PS e terá sido entendido com uma “aquisição de última hora” o que, embora em menor grau, aconteceu com muitos outros intervenientes e, nestes casos, as vantagens e as desvantagens ocorrem ou por que se é conhecido de menos ou por que se é conhecido de mais (curiosa e avisadamente a CDU teve mais e eficaz cuidado com este último aspecto).
- O PSD apesar da quebra, lá conseguiu eleger o seu vereador e ainda bem diga-se de passagem, pois o Nuno Banza é alguém de méritos reconhecidos e um interventor público valoroso e lá conseguiu manter os três deputados municipais do “costume” e algum pessoal nas Juntas. Acabou por perder o lugar de “charneira”, vejamos até que ponto haverá o que se costuma dizer que não há em política – gratidão.
O Bloco também e um pouco inesperadamente, perdeu votos e não conseguiu o seu objectivo principal – eleger Mário Durval como vereador (e como ele o merecia), mas a parada foi muito alta e a bipolarização por cá foi entre o PS (que acabou por não estar à altura) e a CDU o que levou a “esquerda” cá da terra e por via das dúvidas, a votar Carlos Humberto.
O BE manteve também os seus dois deputados municipais, desta vez e sem menosprezo por ninguém, com um upgrade qualitativo (Rosário Vaz). No entanto, a posição da direcção nacional do Bloco face à valência rodoviária da Terceira Travessia e a falta de tacto revelada nesta matéria pelo seu cabeça de lista às Legislativas, Fernando Rosas, podem cair muito bem no mercado eleitoral alfacinha, mas caíram pessimamente nos “índios “ desta “Outra Banda” que estamos fartos de ser e prejudicaram o Bloco nas duas eleições seguidas.
Refira-se que as listas do Bloco me parecem algo “inconsistentes “ (revelam alguma falta de equilíbrio e “solidez” no seu conjunto) e que este, por falta de experiência, de estrutura ou de ambas, não conseguiu capitalizar alguns apoios públicos de peso na sociedade barreirense. É pena, pois a estreia do Bloco nas lides autárquicas foi do melhor que aconteceu no Barreiro em 2005.
Quanto às outras forças assinale-se a acentuada subida do CDS/PP, consequência do "efeito Portas" que assume no discurso o que todos os outros “escondem”- a questão da efectiva e muito mais que “psicológica”, insegurança pública e as várias “tropelias” e distorções, mais que reais, na atribuição de subsídios de protecção social pública (vulgo “Rendimento Mínimo”); resta também sempre a “eterna” dúvida se a votação do PCTP/MRPP se deverá ao seu relativo enraizamento histórico se, apenas, à confusão da foice e do martelo?!
Do resto “não reza a história”- pelo menos para já.
Só me resta desejar a todos bom trabalho e que o Barreiro e todos os que cá vivem, trabalham ou, simplesmente, nos visitam, o sintam e apreciem!
Rodasnepervil - anagrama de “livre pensador” que chegou a ser nome próprio de conterrâneos nossos.
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2 comentários:
As autarquias têm de virar a página, têm de dar o passo em frente, nos dias que correm e com as dificuldades orçamentais existentes têm de fazer o pino e obra ao mesmo tempo, falando no Barreiro, o centro da nossa cidade ficou beneficiado com as obras no Mercado e zona envolvente, toda a zona do Pólis ficou também beneficiada, agora é manter estas zonas e todas as outras limpas, mas todo o Barreiro carece de embelezamento paisagístico, mais árvores e jardins, ruas limpas e educação cívica, de forma a que possamos manter estas estruturas, os cidadãos do Barreiro necessitam de qualidade de vida, precisam de chegar à janela e gostarem daquilo que vêem, precisam de passear em passeios limpos e livres de carros, ruas limpas com canteiros arranjados, precisam de saber que os autarcas eleitos se preocupam com o bem estar dos munícipes, a autarquia que faz mamarrachos para inaugurar em vésperas de eleições já foi, já não existe, passou à história, para bem de todos nós é necessário que pensem bem antes de gastar um cêntimo que seja.
Caríssimo:
Totalmente de acordo e no Barreiro, nessa matéria, ainda há muito por fazer.
Ainda há muito "baldio" e terceiro-mundismo até mesmo no centro da cidade, coexistindo impávida e serenamente com as tais obras, que, inegavelmente, constituem melhoramentos significativos.
Mas no Barreiro, com por todo o Portugal, somos daqueles que usam fraque com "batatas" nas meias.
Isso é que tem que evoluir, temos que aprender que:
"First things first"!!!
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