Esta manhã o bastonário da Ordem dos Médicos, dr. Pedro Nunes, voltou à carga reafirmando que mesmo perante a anunciada falta de médicos em Portugal, sobretudo de médicos portugueses, num futuro muito próximo : "a solução não passa por aumentar o número de vagas disponíveis nas Faculdades de Medicina, o que é preciso é dar incentivos monetários aos actuais médicos para que continuem a trabalhar no Sistema Nacional de Saúde mesmo depois de reformados".
Ah, pois não! Para os interesses que o dr. Pedro Nunes representa não passará, certamente, mas para o interese público, parece-me evidente que passará .
É curioso como a profissão de médico está em entre nós,"blindada" desde o "ovo", ou seja desde antes da formação inicial; o acesso aos cursos de medicina é disputado, ávida e ferozmente, numa competição que começa logo no infantário enquanto processo de condicionamento. Assim, quem não conseguir jogar no Manchester deverá, ao menos, formar-se em Medicina, o que por cá corresponde e nisto é caso singular, a emprego público certo e carreira garantida, para além de um estatuto social de semideus por inerência ( sendo essa a razão porque gosto muito de ser atendido por médicos espanhóis e brasileiros por exemplo - humanos como nós, simples mortais portanto, tendo ainda os segundos meia cura só no trato). Ora, como as pessoas não são estúpidas , conhecem muito bem o chão que pisam e querem o melhor para os seus filhos, tratam de os empurrar a toda a brida para a "Terra Prometida" da Medicina, através de uma autêntica "guerra civil" pré-universitária num sério "combate mortal" pelo menos em relação aos sonhos e aspirações de muitos jovens que se vêem proibidos de ter um"deslize "que seja, pois a fasquia anda pelos 19 de nota mínima .
Nesse struggle for life vale tudo ou quase, como naquele estilo de luta brasileiro em que o médico assiste aos combates certamente apenas para passar as certidões de óbito, pressionar os professores, fazer recursos de notas de 19 para 20, logo a partir do 10º ano, alegando os motivos mais estapafúrdios, para tentar ganhar na "secretaria" o que não se logrou em "campo".
Isto determina inclusivamente, que as disciplinas do Secundário que funcionam como específicas para entrar no tão almejado curso de Medicina, Química e Biologia, sejam das poucas a manter a dignitas de Exames Nacionais, mesmo num contexto em que o Ministério da Educação em quase tudo o resto passou a bola para baixo e as Escolas que se "desunhem", tal é o conceito de autonomia. Esses exames são, não raramente, palco de um autêntico wrestling que chega a meter tribunais e tudo, como aconteceu no ainda recente ano lectivo de 2005 /06 em que o Ministério mandou repetir as provas apenas de uma das chamadas e de um dos programas de Química - uma das tais disciplinas que se tornou um autêntico fetiche por dar acesso a Medicina, violando claramente o princípio constitucional da igualdade e cedendo a pressões, coisa que este Governo gosta de alardear e fanfarronear não fazer. Mas não meus senhores, este Governo é como todos os outros : tem sido forte para os fracos e fraco para os fortes, senão vejamos o que se passou nesse mesmo ano com a disciplina de História, cujas notas constituiram um autêntico escândalo, mas ficou assim porque sim e porque, já me estava a esquecer, "Letras são tretas"; o próprio calendário de Exames girou em torno das disciplinas de científico-naturais com provas espalhadas por três semanas , enquanto que as de humanísticas estavam concentrados apenas numa, o que implicou ter exames todos os dias de segunda a sexta.
Enfim, tudo tem andado à volta das "guerras" da Medicina, curso em que o Vasquinho da Anatomia não teria, hoje, lugar, por muito que soubesse onde se localiza o mastoideu, mas o dr. Pedro Nunes entende que tudo está bem como está, e de facto, para os que estão, está óptimo !
Refrão : "Eles comem tudo ,eles comem tudo e não deixam nada !!!"
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