quarta-feira, 28 de maio de 2008

E se a máscara cair ? ( O regresso do Bloco Central )

Já toda a gente percebeu que o Governo Sócrates tem nesta conjuntura e com as contas furadas por factores que não domina, poucas hipóteses de se fazer confirmar eleitoralmente , pelo menos com maioria absoluta, o que acaba por ir dar quase ao mesmo. Assim e seguindo o proverbial destino do poder no regime constitucional português: easy comes, easy goes, se a onda de descontentamento engrossar por obra do agravamento da crise internacional da subida dos preços dos combustíveis e dos alimentos que neste momento ninguém está em condições de saber até onde irá parar, é muito natural que o poder caia no regaço do PSD.
Dirimida internamente a questão da liderança e os dois únicos canditatos com possibilidadesde ganhar-Pedro Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite, estão para Sócrates e sus muchachos como Dupont está para Dupond, poderá pôr-se de novo a questão da "estabilidade" governativa num quadro que sirva obviamente os interesses do costume e no caso mais do que provável de não haver maioria absoluta do PS ou do PSD com ou sem CDS e a diferença entre os dois maiores partidos for ínfima, então pode ser que a máscara do antagonismo irredutível entre os dois acabe por cair e se "ressuscite" o Bloco Central ao rebate dos sinos do "interesse estratégico nacional".
Nessa conformidade, veremos como se esfumam as diferenças que mais têm servido para disfarçar a falta de reais alternativas e para alimentar as guerras da clubite partidária que entretem e dá "gás" aos núcleos duros dos "fiéis ao tacho" e se dará o dito por não dito, em termos de considerações acerca de capacidades e competências, desde que se salve o essencial para o sistema e a crise continue a ser paga pelos mesmos.
É que em matéria de crise, o pior ainda pode estar para vir e se de facto , esta crise (e oxalá que não, longe vá o agoiro !) assumir proporções semelhantes à de 29, então as condições em que temos estado a viver nos últimos sessenta anos decairão substancialmente e enfrentaremos um cenário de guerra ( "bichas", racionamento), mesmo sem guerra; mas nunca deixando de lado que este tipo de situações costumam precedê-las. Direi como o meu amigo Zé Batista, biólogo, diz do vírus da SIDA: não é dos mais malignos , basta que imaginemos, e não será de todo em todo impossível , um que tenha os seus efeitos, mas se propague como o da gripe .
Lembram-se certamente da curta história da relação cambial entre o dólar e o euro, pense-se neste cenário em relação ao preço dos combustíveis, mas com as moedas em paridade de valor: por exemplo, com o barril de petróleo a qualquer coisa como 130 euros; é claro que aí aos nossos governantes já só restaria fazer como Maria Antonieta e dizer : "Se não têm pão , porque não comem brioches ?"
E escusa Sócrates de pedir desculpas, o excesso de actos de contrição , demais a mais , quando a coisa começa a ficar tremida, não abona a favor da verticalidade de ninguém, muito menos da de quem medrou sob a imagem de "cortar a direito"- é que fumar, que eu saiba ainda não é crime , será no caso, mera contra-ordenação e quanto às desigualdades elas são como que uma matriz, existem em Portugal pelo menos desde o século XII, ou seja desde que Portugal existe. Sócrates e o seu governo têm-se limitado a deixar tudo como dantes ("quartel-general em Abrantes"), o que é objectivamento uma forma de as deixar aumentar, mas não por "culpa" especificamente sua, nem sequer da invocada "direita".
O que se passa é que por cá, na terra da não inscrição, as desigualdades se inscreveram de tal modo no tecido social , que passam por ser aquilo que Althusser disse da História : "um processo sem sujeito".

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