terça-feira, 27 de maio de 2008

Uma Questão de Estatuto

O ministro Mário Lino veio "responder" esta manhã a um texto de Mário Soares publicado no Diário de Notícias de hoje, em que este alerta o PS e o governo para um conjunto de sintomas de grave crise social, que aliás estão à vista de toda e são sentidas por quase toda a gente: aumento dos preços dos combustíveis e dos bens alimentares essenciais, do desemprego e de insolvências várias, aumento galopante da pobreza e das desigualdades sociais, iniquidade na distribuição da riqueza e da carga fiscal, insegurança crescente e revolta da classes médias mais do que expoliadas e ameaçadas de extinção como os linces da Serra da Malcata ( é curioso que o velho "Catilina", Medina Carreira tinha ontem no "Prós e Prós" da RTP, dito essencialmente o mesmo no seu habitual estilo truculento rematando com o comentário e cito de cor : "-se isto é ser «europeu» vou ali e já venho !")
Achei insólito por várias razões : a primeira é que foi demasiado cedo, àquela hora matinal Mário Lino ainda não consegue ter piada, a segunda é uma questão de estatuto, e o PS neste momento tem graves problemas neste domínio, quando se trata de arranjar personalidades com estatuto político "socialista" e mesmo tout court para "responder" a posições públicas de alguém como Mário Soares. Mário Lino não o tem e o próprio secretário-geral , obviamente, que também não e os poucos que o poderiam fazer não estarão particularmente interessados.
Aliás, o caso de Mário Lino é sintomático, entre ele e Mário Soares há duas coincidências: ambos se chamam Mário e ambos foram militantes do PCP, só que o primeiro abandonou-o há cerca de meio século para iniciar uma luta tenaz e prolongada pela democracia antes e depois do 25 de Abril, arriscando tudo e federando a esquerda democrática para que se contituísse um bloco social democrático no sentido mais amplo do termo que a actual direcção do PS está, depois de ter enganado, a desbaratar. Quando o fez era um jovem e ainda foi a tempo de confirmar o Axioma de Willy Brandt : "Quem não è revolucionário aos vinte anos, não tem coração; mas quem continua a sê-lo aos quarenta, não tem cabeça !"
O segundo só o fez há uma dúzia de anos, já bem na idade madura , tão madura que lhe deu para entender, e nisto não esteve só, muito longe disso , que se lá tivesse permanecido nunca teria chegado, por exemplo, a ministro e às demais portas que o cargo e o cartão acabam sempre por abrir.
No resto não há senão diferenças !

Nenhum comentário: