quinta-feira, 15 de maio de 2008

A estátua e a anedota

A última sessão da Assembleia Municipal do Barreiro em que acabo de participar teve por "prato forte" a problemática do destino a dar à estátua de Alfredo da Silva no contexto da intervenção que está a ser levada a cabo na zona do Mercado 1ºde Maio, uma vez que há uma inultrapassável incompatibilidade entre a obra e o conjunto que envolve a estátua (estátua propriamente dita, área envolvente de pedra branca e espelho de água). Ora, a páginas tantas de tão acalorado e "embrulhado" que foi o debate, com toda a gente a esconder o jogo e a deixar os "trunfos"para o fim, a situação era análoga à daquela "clássica" anedota do hippie peregrino que chega a um santuário , quer comprar um crucifixo e pergunta o preço, acha caro e insiste:
- Então e sem o "gajo" ?
Tal foi a confusão entre sai tudo ou sai só em parte, é um todo ou é separável, fica tudo ou não fica nada !
Depois alegou-se que a questão não é política; é claro que é política desde o início, quando a estátua lá foi colocada foi-o por uma opção política. Eu lembro-me muito bem desse dia ameno de 1966, de com os meus dez aninhos, lá estar no meio dos meninos arrebanhados para receber o Senhor Almirante para que ele cortasse a fita do costume ( desporto em que era exímio juntamente com o descerramento de lápides e a caça à queima-roupa), lembro-me também que a Câmara da altura só mandou caiar duas das quatro empenas do Mercado, obviamente aquelas que ele veria directamente e claro que esta foi uma opção política de um regime que dizia execrar a "política", mas queria com isso dizer a que não fosse a sua, tal como actualmente o pensamento único neoliberal decretou o fim das"outras" ideologias.
Portanto não há que ter medo das palavras, a questão da localização da estátua ,da sua remoção ou relocalização, envolve opções de natureza estritamente politica e mais, até temo que se esteja a tentar fazer agora o que por falta de "coragem", certas forças não conseguiram então fazer e emendar a mão mais de trinta anos depois; espero bem que o bom senso prevaleça e não se tomem iniciativas ds ânimo leve ou de má fé,é que mesmo o mais emperdernido dos jdanovistas sabe distinguir o "objectivo" do "subjectivo" e convenhamos que a história é o que foi e não o que desejaríamos que tivesse sido e objectivamente Alfredo da Silva e sua estátua fazem parte da simbólica e da história desta cidade independentemente da perspectiva sob a qual julgamos o homem e a obra.
Se bem que continue absolutamente verdadeira a interrogação de Brecht :
"Alexandre foi um grande conquistador,...não terá levado ao menos um cozinheiro ?"
Post Scriptum :
A maioria rejeitou a proposta do PS de realização de um referendo local e o meu amigo Sousa Pereira dizia que se ele fosse feito a escolha seria óbvia pela remoção !
Olhe que não doutor, olhe que não !!!

Um comentário:

António Cabós Gonçalves disse...

A estátua foi inaugurada em Junho de 1965 e eu é que tinha 10 aninhos e também lá estava de bata branca. Tu só tinhas 9, porque és um puto!